terça-feira, 26 de junho de 2012

Por que sempre eu?

O atacante italiano Mario Balotelli sofre de tabloidismo. Diagnóstico fácil. Difícil é conhecer a causa, como observou o colega Daniele De Rossi, capitão da seleção da Itália: "Não sei se os tabloides são maus demais com o Mario ou se ele dá demais de comer a eles".
Os dois. Seu jeito rebelde e extravagante - nos campos, nas boates ou nos carrões - o torna um prato cheio para os fofoqueiros.
[...] Depois que trocou a Inter de Milão pelo Manchester City, da Inglaterra, dois anos atrás, a coisa desandou de vez. Lá, onde gostam tanto de xeretar a vida privada alheia quanto de uma boa Guinness, vira e mexe listam "as maiores encrencas de Balotelli".
Balotelli acende fogos de artifício no banheiro e quase incendeia sua mansão de £3 milhões (R$ 9,6 milhões). Balotelli lança dardos nos juvenis do City e, questionado por que cazzo fez aquilo, diz que "estava entendiado". Balotelli tem sua Maserati guinchada pela 27ª vez, por estacionar em local proibido. Balotelli sai no braço com cinco leões de chácara e é expulso de um inferninho por infringir as regras da casa: "tocou" numa dançarina quando podia somente pendurar-lhe dinheiro na tanga. Balotelli passa a noite num casino, abiscoita 28 mil euros (R$ 72 mil) e, na saída, da mil euros para um mendigo. Balotelli é parado numa blitz e o guarda quer saber por que ele carrega £5 mil em cash espalhados no banco do passageiro: "Porque eu posso. Sou rico"
Balotelli se define: "Quando decido marcar um gol vou lá e marco. Eu sou um gênio. E os gênios são tão diferentes que as pessoas não os compreendem".
E também sofre preconceito. Onde quer que vá, das arquibancadas lhe jogam bananas - aconteceu agora mesmo na Euro. Gritam-lhe "preto bastardo", "volte para a Àfrica". Imitam macacos. Estendem faixas onde se lê que "não existem italianos negros". Filho de imigrantes ganeses e nascido em Palermo, Balotelli é o primeiro jogador não branco a defender a seleção da Itália. É italiano de nascimento e papel passado, porque ao atingir a maioridade, podendo optar entre sangue ou terra, escolheu a cidadania da família de Brescia que o criou desde os dois anos, depois de ser abandonado pelos pais biológicos. "Sou italiano, negro e orgulhoso de minhas raízes africanas. Não tolero racismo. É incrível que ainda aconteça em 2012. Eu vou para a cadeia, porque ainda mato um", já disse.
[...] Em 2008, quando se tornou um jogador de sucesso na Inter, seus pais biológicos reapareceram para dizer que a história do abandono não era bem assim. Thomas e Rose Barwuah, contaram que Mario, caçula de quatro irmãos, nascera com um problema de formação no intestino e precisou ficar dois anos no hospital. Ali, uma assistente social os convenceu a entregá-lo a Silvia e Francesco Balotelli, um casal humilde, com três filhos, mas em melhores condições de cuidar do menino. Balotelli deu de bico: "Por 16 anos eu não recebi nem um telefonema no dia do meu aniversário. Agora eles choram na TV e pedem o meu amor. pra mim, são dois estranhos. Esses pedidos tardios e oportunistas não serão atendidos, porque se eu não tivesse me tornado Mario Balotelli continuaria não importando aos senhores. Barwuah.

Christian Carvalho Cruz  - 'Por que sempre eu?'
O Estado de S.Paulo - domingo 24 de junho de 2012
Caderno Aliás - pg 1

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